A construção de um parque na propriedade que está em volta do Teatro Oficina, no bairro do Bixiga, em São Paulo, seria uma “homenagem justa” ao Zé Celso, disse o diretor e viúvo do dramaturgo, Marcelo Drummond, em entrevista à CNN, neste sábado (7).
O diretor, morto na última quinta-feira (6) após um incêndio atingir seu apartamento, travava há 43 anos uma disputa judicial contra o apresentador e empresário Silvio Santos, que comprou o terreno em 1980.
A ideia do comunicador era erguer um arranha-céu para seu grupo empresarial, no entanto, sabendo do impacto do prédio ao espaço cênico e região, Zé Celso foi à Justiça.
“A construção dos prédios não só desconfiguraria todo o projeto da Lina [Bo Bardi], o Teatro Oficina, como vários outros imóveis tombados do Bixiga, como TBC [Teatro Brasileiro de Comédia], a Casa da Dona Yayá, o Castelinho da Brigadeiro, porque faria sombra em todos esses imóveis. Não é uma briga só nossa, mas do Ministério Público paulista também”, declarou Drummond.
Uma das particularidades do Teatro Oficina é uma grande janela em uma de suas partes laterais, que possibilita ao telespectador enxergar com certo privilégio a paisagem da cidade de São Paulo. O elemento faz parte do projeto arquitetônico de Lina Bo Bardi, que também projetou o MASP, e fez o Oficina ser considerado “o melhor teatro do mundo” em termos de arquitetura pelo jornal The Guardian.
Zé Celso defendia a criação de um parque no terreno, ao invés dos prédios desejados por Silvio Santos.
Durante a entrevista, Drummond relembrou que, no dia de seu casamento – Zé e Drummond se casaram em cerimônia no Oficina, no início de junho, mesmo juntos há quase 40 anos – o casal recebeu uma intimação do Grupo Silvio Santos.
“Recebemos uma intimação porque ganhamos de presente um ipê da Fernanda Montenegro pra plantar e ser a primeira árvore plantada do Parque do Bixiga. Recebemos uma intimação que não poderíamos fazer isso e nos custaria uma multa de R$ 200 mil a cada vez que perturbássemos os proprietários”, disse.
“A gente continua querendo o parque. Acho que é o momento de fazer o parque. É uma homenagem justa ao Zé Celso. O Bixiga não tem praça, tem uma densidade habitacional urbana enorme e não existe um parque onde as crianças possam brincar, onde se possa passear com os animais”, continuou.
“É um momento em que a gente vê que o mundo precisa sobreviver, precisa de árvores. Não precisa de mais prédios. Tem muitos prédios fechados em São Paulo, e muita gente na rua. Essa especulação imobiliária precisa ser repensada. O poder público, ao invés de apoiar a especulação, como está querendo fazer, devia começar a apoiar fazer parques em São Paulo. São Paulo precisa disso”, concluiu.
À CNN, o SBT disse: “O terreno é do Grupo Silvio Santos, mas não temos nada mais a declarar.”