MUNDO

O conflito no Oriente Médio em debate na ONU

Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio

Na semana passada tivemos a reunião da 79ª Assembleia Geral da ONU. Os países membros se manifestaram sobre diferentes questões de grande importância para a política internacional. O contexto global tem sido marcado em termos gerais pelo acirramento da competição e de conflitos internacionais. Nesse cenário, a questão do Oriente Médio se destaca com potencial de se tornar uma guerra mais ampla envolvendo diretamente outras potências da região.

Nas últimas semanas, o exército israelense fez diversas operações em território libanês como a explosão de pagers e rádios de comunicação visando enfraquecer e atingir o Hezbollah. Também realizou um ataque que resultou na morte do principal líder do grupo terrorista. Ao mesmo tempo, ataques continuam ocorrendo em Gaza com o objetivo de extinguir o Hamas. A atuação israelense foi alvo de comentários de diversos líderes mundiais como o presidente Lula, o presidente Biden, o presidente Macron, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, a ministra de relações exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock. O principal questionamento levantado é que o governo israelense estaria desrespeitando limites impostos pela Carta da ONU e pela Convenção de Genebra sobre a Guerra ao realizar ataques que tem feito como vítimas inúmeros civis tanto em Gaza quanto no Líbano.

Os ataques realizados no Líbano apontam para uma possível escalada do conflito na fronteira norte de Israel e prováveis incursões terrestres no território libanês. Temendo a escalada da guerra, o governo libanês pediu ajuda aos Estados Unidos por reconhecer que não tem condições econômicas e militares de entrar em conflito armado direto com Israel, ao passo que vê sua soberania territorial sendo colocada sob ameaça.

Em seu discurso na ONU, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou que Israel vai continuar sua ação militar para extinguir o Hamas, afirmando que a maior parte dos combatentes do grupo terrorista já teriam sido eliminados pelas Forças de Defesa Israelenses. Ao mesmo tempo, os ataques contra o Hezbollah continuariam. O Hezbollah tem feito ataques com mísseis e drones na fronteira norte de Israel desde os ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023. Porém, o esforço israelense de guerra esteve concentrado mais na Faixa de Gaza do que no norte, apesar de ataques pontuais terem acontecido com o objetivo de eliminar importantes lideranças do grupo terrorista. O presidente também ameaçou uma escalada do conflito com o Irã que tem financiado e dado apoio a ambos os grupos terroristas além de liderar a concertação de diferentes grupos para a realização de ataques contra Israel como os Houthis do Iêmen, além do Hamas e do Hezbollah.

Tanto o ministro das relações exteriores libanês quanto o presidente da Autoridade Nacional da Palestina condenaram veementemente os ataques de Israel à Faixa de Gaza e ao Líbano em seus discursos na Assembleia Geral. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, denunciou o impedimento da chegada de ajuda humanitária a Gaza por causa dos bloqueios israelense e afirmou que vai com seu governo até a região de Gaza e pede que Israel não impeça seus esforços de atender o seu povo que se encontra em grave situação econômica e social. Porém, é preciso notar o silêncio de tanto o ministro das relações exteriores do Líbano quanto de Mahmoud Abbas sobre os grupos terroristas em questão, Hamas e Hezbollah. Qualquer solução para a resolução do conflito na região depende do envolvimento de ambos os grupos, uma vez que um cessar-fogo só seria possível com o compromisso de ambos os grupos de não realizarem novos ataques.

Ambos também se abstiveram de comentar sobre o envolvimento do Irã. Apesar das falas apresentadas na Assembleia Geral da ONU, a perspectiva é de que o conflito na região deva continuar escalando podendo se tornar uma guerra regional envolvendo diretamente países como o Líbano e o Irã. O acirramento dessa guerra vai colocar sob pressão outros países árabes como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes que haviam estreitado laços de cooperação econômica com Israel, tornando a possibilidade de paz para a região cada vez mais distante.

Por: Isabel Rizzo<isabelrizzo@agenciarace.com.br>