Tupi Paulista – No fundo do poço
Há alguns anos surgiu um texto do gaucho Cirurgião-dentista aposentado Jayme José de Oliveira que muito diz sobre certo povo de um país distante que vivia sob um regime de democracia relativa, uma constituição interpretada a bel prazer de alguns poucos e por ai vai…
– “Desde os tempos de criança eu sempre achava um colosso puxar com a corda o balde cheio da água do poço.
Eu guri, pensador, desde então já questionava como do fundo tão escuro, água tão clara brotava.
Eu era um piá curioso que até esticava o pescoço tentando ver o que tinha naquele fundo de poço.
E veio um tempo de seca, em que tudo ia mermando, até que num dia triste a nossa família viu: o balde desceu o poço e voltou de lá vazio. Calamidade, desgraça, preces, lágrimas sentidas.
Patrão do Céu manda água, pois sem água não tem vida.
Mas é que Deus decidira me mostrar, quando já moço, o que se pode aprender chegando ao fundo do poço.
Na mesma corda do balde que tantas vezes desceu, cheio de medo e cuidado, desta vez desci eu.
Com a luz duma velinha, cavando no lodo imundo, aos poucos fui achando o que havia lá no fundo.
Tinha uma tesoura velha que a irmã tinha perdido e era de cortar o umbigo de cada recém-nascido.
um bodoque que a mãe jogara lá por carinho, pois não queria ver a gente maltratando passarinho.
Um balde velho, que a corda rebentou e ele caiu.
Um brinco, não sei de quem e um isqueiro de pavio.
Até um trabuco velho, este causou sensação porque de sua existência ninguém tinha informação.
Ouvia dos lá de cima a algazarra e o alvoroço a cada carga que o balde levava ao subir o poço.
Depois, com a pá e a enxada, numa missão dolorida, tirei do fundo do poço todo o lodo de uma vida.
Quando já quase findava tarefa tão cansativa, eu vi como por milagre, brotar do chão água viva.
Ao ouvir vozes que diziam: isso é o fundo do poço, lembro que nem eu sabia ser capaz de tanto esforço.
Quem sabe a gente se une, com fé, humildade e grandeza, e já que estamos no fundo, fazemos uma limpeza.
Há muito caco escondido no meio do lamaçal, que para ser retirado requer trabalho braçal.
E assim, do fundo do poço vai brotar um Brasil novo, saciando de esperanças a alma do nosso povo”.
Merece uma reflexão…
Antonio Luciano Teixeira