A 'pipoca' voltou: baleia-jubarte reaparece depois de quatro anos
[ad_1]
Identificada por pesquisadores ao sul de Ilhabela em 2018, baleia é reencontrada em Vitória-ES. “Pipoca” é conhecida como símbolo de Ilhabela.
Arlaine Francisco/ProBaV
Você provavelmente já ouviu falar ou presenciou os saltos das baleias-jubarte (megaptera novaeangliae). É como se elas quisessem voar com suas “grandes asas”. É daí que vem o nome científico da espécie, que significa “grandes asas” + “Nova Inglaterra” – local onde a espécie foi descrita pela primeira vez.
Essa é uma espécie conhecida no mundo todo por seu comportamento fora d’água, que acaba encantando a quem tem a possibilidade de apreciar esse espetáculo. Veja o vídeo.
A ‘pipoca’ voltou: baleia-jubarte reaparece depois de quatro anos
Para quem não conhece, a “pipoca” é uma baleia-jubarte símbolo da cidade de Ilhabela que virou até estátua na orla da Praia do Perequê. A réplica é ponto turístico e de fotos no município. A jubarte foi vista pela primeira vez em 2018 e desde então não apareceu mais. “A gente não via baleia ali na região, mas no dia 21 de junho de 2018 avistamos uma que saltou 34 vezes durante um deslocamento entre Ilhabela e São Sebastião. Fizemos os registros da cauda e, por conta dos saltos, a batizamos com o nome de pipoca”, explica Julio Cardoso, apaixonado por navegação e um dos fundadores do Projeto Baleia à Vista, em 2016.
Também fundadora do projeto, a bióloga e fotógrafa de natureza Arlaine Francisco reforça que esse trabalho só é possível pois conta com a ciência cidadã. “Recebemos informações de aparecimento de baleias e golfinhos através de pessoas que estão no mar ou na área costeira. Isso contribui com o desenvolvimento de publicações científicas e com a educação ambiental na medida em que amplia o conhecimento da população”.
Todas as informações são compiladas em uma plataforma de monitoramento global chamada Happywhale.
Plataforma de monitoramento ajuda na identificação de cetáceos.
Happywhale
Segundo Arlaine, que é especialista em ecologia marinha, o trabalho é feito com foto-identificação. “Nós fazemos as fotografias e colocamos na plataforma com dados de geolocalização, como o município onde foi registrada e a coordenada no mar. A partir daí, os algoritmos entram em ação. Eles casam as informações e buscam correspondência. Ao fazer a correspondência, conseguimos saber mais sobre a vida dos indivíduos, os locais que frequentam, o comportamento de cada um, se estão acompanhadas de outras baleias”, conta.
Arlaine explica que, assim como os humanos têm a impressão digital no polegar, as jubartes possuem padrões embaixo da nadadeira caudal. “Algumas caudas são pretas, outras possuem manchas brancas.
Catálogo Jubartes mostra as diferenças de caudas.
Projeto Baleia à Vista (ProBaV)
É muito específico e individual de cada uma. Então, para que a gente consiga fazer as fotos, precisamos que a baleia levante a cauda para fora d’água”. O Projeto Baleia à Vista possui um catálogo com centenas de fotos de indivíduos já identificados. No total, são 20 matchs realizados, ou seja, 20 baleias foram registradas e identificadas. A pesquisadora destaca que esses números são extremamente importantes para a ciência e ressalta ser uma pesquisa não invasiva, sem que haja interferência na vida do animal.
Foi com a ajuda dessa plataforma que a “pipoca” foi reencontrada. A jubarte foi vista em Vitória, no Espírito Santo, pelos integrantes do Projeto Amigos da Jubarte. “Estamos muito felizes com a nova aparição dela, porque é uma baleia que se destacou com seu comportamento e que despertou a curiosidade para a presença das baleias na região, que até então tinha a presença de jubarte. É muito importante para a educação ambiental”, completa.
A MIGRAÇÃO
Todos os anos, as baleias-jubartes migram anualmente para completar o ciclo de alimentação e de reprodução. O ciclo de alimentação é feito durante o verão, nos arredores da Antártida, onde comem pequenos peixes. Quando o clima começa a ficar mais frio, elas iniciam um processo de migração de aproximadamente 4 mil km em direção à região de Abrolhos, na Bahia, para se reproduzirem, onde a água é mais quente e, portanto, mais apropriada para os filhotes nascerem.
“É uma migração muito longa, então elas precisam estar bem alimentadas. Elas passam a temporada de alimentação engordando, que é importante para conseguirem realizar todo o trajeto. O processo de reprodução também demanda bastante energia”, lembra Arlaine Francisco. A bióloga explica que o ciclo de reprodução é um momento de competição. “Primeiro as baleias formam grupos que, em geral, são compostos por uma fêmea e de 10 a 15 machos. É uma competição agressiva, pois os machos querem chamar a atenção da fêmea para serem escolhidos”.
Julio Cardoso, que trabalha desde 2004 com monitoramento de baleias e golfinhos no litoral norte de São Paulo, conta que a “pipoca” foi vista no meio do caminho para Abrolhos, enquanto passava pelas águas do Espírito Santo que, assim como Ilhabela e Rio de Janeiro, são áreas de passagem e não áreas reprodutivas para as espécies. “É gratificante saber que ela foi vista depois de quatro anos e muito bem de saúde. Ela estava com um grupo de outras baleias e com golfinhos. Ainda não sabemos se esse grupo migrou junto com ela ou se já é um grupo reprodutivo”. Ele explica que estão trabalhando na identificação do sexo do indivíduo, mas tudo indica que seja um macho por conta da característica do salto. “Ela estava saltando muito, está feliz… e nós também”.
POR QUE AS JUBARTES ESTÃO APARECENDO PERTO DA COSTA?
Se no passado a caça das baleias era bastante comum no litoral, hoje inúmeros projetos de conservação de cetáceos contribuem para o aumento da população, como o Projeto Baleia à Vista, responsável pelo monitoramento no litoral norte de São Paulo, e o Projeto Amigos da Jubarte, no Espírito Santo. Segundo bióloga Arlaine Francisco, a população de jubartes em tempos de caça era de 3 a 5 mil, mas com o fim da caça e os trabalhos em conjunto, a população no Atlântico Sul se recuperou. Hoje temos mais de 20 mil baleias frequentando nossas águas. “No período de temporada eu sempre falo para as pessoas: fiquem de olho no mar porque as jubartes estão passando e se a pessoa tiver sorte pode avistá-las”, conta.
Turismo de Observação de Baleias e Golfinhos cresce no litoral norte de São Paulo.
Bruna Rezende/Amigos da Jubarte
Segundo Julio Cardoso, é fundamental também que o município como um todo esteja engajado na causa. “Ilhabela e São Sebastião são áreas onde têm aparecido muitas baleias-jubartes, então as cidades estão preocupadas em desenvolver o Turismo de Observação de Baleias e Golfinhos, conhecido internacionalmente como whale watching”. Julio explica que Ilhabela vive ainda mais do turismo em comparação com São Sebastião. “Tem muito investimento em treinamento e preparação de operadoras de turismo de avistagem para que estas possam estar realizando com cuidado a aproximação dos cetáceos”.
A atividade de observação é normatizada pela Lei Federal 7.643 de 1987 que, de acordo com o art. 1º, proíbe o molestamento intencional de qualquer espécie de cetáceo. A Portaria Ibama nº 117 de 1996 define normas específicas para a atividade.
[ad_2]
VEJA AQUI