Os BRICS e sua importância para o Brasil
Por Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Mackenzie Rio
A história dos BRICS começou com o relatório da Goldman Sachs que apresentava Brasil, Rússia, Índia e China como mercados emergentes importantes a serem acompanhados pela sua boa performance econômica. A partir de então, os países BRICs passaram a se reunir de forma constante, às margens de fóruns multilaterais, como o G20 e a Assembleia Geral da ONU. Em 2009,
após a crise financeira, o clube foi formalizado com reuniões de cúpula anuais com o objetivo de fortalecer a cooperação e a coordenação das políticas econômicas e em torno das demandas desses países no âmbito internacional. E, em 2011, a África do Sul foi convidada a entrar no clube representando os países africanos.
Em termos gerais, os BRICS são países diversos com perfis econômicos, políticos e sociais muito diferentes. Isso torna a coordenação da atuação entre esses países uma questão complexa. Contudo, o interesse comum que une os países BRICs desde o início é o desejo por uma maior representatividade nas esferas internacionais multilaterais, nas quais os países desenvolvidos possuem uma liderança consolidada.
Quando os BRICS foram criados, todos os países membros possuíam taxas de crescimento econômico muito superiores aos países desenvolvidos, de forma que despontavam como importantes atores na economia global, o que foi evidenciado pela crise financeira de 2009.
Para o Brasil, os BRICS sempre foram uma forma de consolidar a influência do país no cenário internacional. O Brasil tem a tradição de, na sua política externa, buscar exercer influência promovendo o multilateralismo e a cooperação entre os países e uma maior participação dos países em desenvolvimento nas questões dominantes da agenda internacional.
Os BRICS se encaixam nesse cenário como uma plataforma que reafirmava o papel do Brasil como um representante dos países em desenvolvimento, sobretudo a América Latina. Em certa medida, os BRICS sempre foram uma plataforma para que o Brasil projetasse sua plataforma para além das suas reais capacidades ou relevância no cenário internacional.
A recente expansão do clube para incluir outros países pode ter impactos ambíguos para o Brasil nesse sentido. O aumento da quantidade dos membros, dilui o poder dos membros existentes dentro do clube. Contudo, a China tem uma influência maior que o Brasil em relação aos novos membros, dada suas profundas relações econômicas com estes, tornando assim a influência chinesa desproporcional dentro do bloco, uma vez que diante de divergências, os demais países serão reticentes em se oporem à posição chinesa.
A China tem construído parcerias econômicas com países emergentes da Ásia, África e América Latina sob o lema de “ganhos mútuos”, no qual a China oferece investimentos e maior acesso ao seu mercado, compartilhamento de tecnologia, desenvolvimento de infraestrutura e espera algo em troca em termos econômicos ou até mesmo de uma aquiescência política.
Por exemplo, através de acordos de cooperação bilateral, a China tem revertido a posição de diversos países que ainda reconheciam Taiwan e não a República Popular da China diplomaticamente. Essa mesma dinâmica vai permear as decisões e agendas no âmbito dos BRICS, o que pode resultar numa influência desproporcional da China e da perda de influência para países como o Brasil e África do Sul.
Ainda assim, os BRICS são ainda a principal plataforma de coordenação entre as principais economias emergentes e um importante vetor para a promoção dos interesses brasileiros no cenário internacional. O cuidado do Brasil e da sua diplomacia deve ser em não permitir que os BRICS se consolidem como um espaço de influência predominantemente chinesa.
Outro cuidado deve ser com o acirramento das tensões do clube com os demais países desenvolvidos.
O Brasil ainda possui boas relações com países europeus e com os Estados Unidos, o que poderia ser prejudicado pela participação em bloco liderado e sujeito aos interesses chineses em contraposição à ordem internacional existente. Os BRICS até então são uma plataforma de demandas por mudanças na ordem existente advogando uma maior participação dos países em desenvolvimento. Isso, contudo, é diferente de ser uma proposta alternativa de ordem internacional ou da defesa de uma ordem completamente nova.
De : Isabel Rizzo<isabelrizzo@agenciarace.com.br>